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O DIA NA CRIAÇÃO

Atualizado: 21 de dez. de 2024

Por Carlos Alberto Maia Guerra


INTRODUÇÃO

Ao estudar as Escrituras sobre a criação, uma das primeiras perguntas que surge é: os dias da criação são literais ou representam eras? Quantos períodos ou dias durou a Criação? Essas questões têm sido tema de muitos debates e controvérsias, gerando diversos argumentos e teorias. Responder a essas perguntas tornou-se um grande desafio, e existem diversas explicações possíveis.

A primeira ocorrência bíblica do termo “dia” ocorre em Gênesis 1.5: “E Deus chamou à luz dia, e às trevas noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro”. É importante destacar que os judeus não dividiam os dias em intervalos regulares de hora como fazemos hoje. Para eles, o dia era contado de um pôr-do-sol ao outro.


Sobre o autor


1. DEFINIÇÃO DA PALAVRA DIA

A palavra dia “yôm”, que se traduz como “dia”[1], possui vários significados “luz do dia, dia, tempo, momento, ano”. “Esta palavra também aparece no ugarítico, hebraico extrabíblico ou cananeu (por exemplo, a inscrição de Siloé), acadiano, fenício e árabe. Também aparece no hebraico pós-bíblico. Atestada em todas as eras do hebraico bíblico”[2].

A palavra “dia” ocorre “1515 vezes, sendo: 1248 vezes no Antigo Testamento e 267 vezes no Novo Testamento”[3]. Além disso, existem “975 palavras relacionadas e o total de referências das palavras relacionadas: 2490”.[4]

 

2. CAMPO SEMÂNTICO DA PALAVRA DIA

Após definir a palavra “dia” e os seus diversos significados no Antigo Testamento, observa-se que, no campo semântico, esse termo nem sempre se refere a um período de 24 horas, mas possui várias significações dependendo do contexto em que é empregado. Vejamos os diferentes significados[5]:

 

Gênesis 8.22 - “Enquanto a terra durar, sementeira e sega, e frio e calor, e verão e inverno, e dia e noite não cessarão”. Representa o período da “luz do dia” em contraste com o período da noite.

Gênesis 39.10 - “E aconteceu que, falando ela cada dia a José...”. A palavra denota um período de vinte e quatro horas.

Gênesis 2.3 - “E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra, que Deus criara e fizera”. O termo yôm também significa um período de tempo de duração não especificada. Neste versículo, “dia” diz respeito a todo o período em que Deus está descansando por ter criado o universo. Este “dia” começou depois que Ele completou os atos criativos do sétimo dia e estende-se, pelo menos, até à vinda de Cristo. Aqui “dia” se refere à totalidade do período previsto nos primeiros seis dias da Criação.

Gênesis 2.17 - “Mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. Aqui a palavra descreve um “ponto do tempo” ou “um momento”.

Êxodo 13.10 - “Portanto, tu guardarás este estatuto a seu tempo, de ano em ano”. Finalmente, quando usada no plural, a palavra descreve “ano”.

 

3. INTERPRETANDO GÊNESIS 1-2

Após analisar os diversos significados em seus respectivos contextos, voltamos à questão inicial: os dias da criação são literais, representam eras ou possuem outro significado? Champlin ao discorrer sobre o primeiro dia, diz que:

 

“O autor sacro deixa-nos sem nenhuma explanação, e aquelas que muitos têm oferecido são vãs. O autor sagrado não estava pensando em algum aeon ou era, com o alguns têm sugerido. Se essa tivesse sido a sua intenção, sem dúvida ele teria deixado clara a questão. Bem pelo contrário, logo adiante ele começou a falar em dias de vinte e quatro horas. Se essa tivesse sido a sua intenção, sem dúvida ele teria deixado clara a questão. Bem pelo contrário, logo adiante ele começou a falar em dias de vinte e quatro horas”.[6]

 

Sobre o significado do termo dia em Gênesis 1.5 existem “cinco teorias principais sobre a interpretação dos seis dias da criação”.[7]

3.1 A teoria do dia pictórico

Ela afirma que os seis dias mencionados no livro de Gênesis são os seis dias durante os quais Deus revelou a Moisés os eventos da criação. Mas a Bíblia relata a criação de maneira clara, simples e histórica como relata quaisquer outros eventos. Interpretar o texto desta forma exige o abandono de todos os princípios exegéticos.

3.2 A teoria do hiato

Afirma que Gênesis 1.1 descreve uma criação original que foi seguida pela queda de Satanás e pelo grande juízo. Supõe-se que Gênesis 1.2, então, seja uma descrição da recriação ou restauração que ocorreu (cf. nota de Gn 1.2). Êxodo 20.11 ensina que todo o universo, incluindo os céus e a terra (Gn 1.1) foi criado no período de seis dias mencionado no primeiro capítulo de Gênesis.

3.3 A teoria do dia intermitente

Afirma que os dias mencionados são dias literais, mas que são separados por longos períodos de tempo. Contudo, a menos que toda a atividade criativa seja limitada aos dias literais, esta interpretação é uma contradição direta ao texto de Êxodo 20.11.

3.4 A teoria do dia-era

afirma que a palavra yôm, que é o termo hebraico para “dia”, é usada para se referir a períodos de extensão indefinida, e não dias literais. Embora este seja um significado viável para o vocábulo (Lv 14.2,9,10), não é o mais comum. Logo, o sentido vernacular não é fundamento suficiente para sustentar a teoria.

3.5 A teoria do dia literal

aceita o significado claro do texto: o universo foi criado em seis dias literais. Os vários esforços para unir o relato bíblico da criação e a evolução não são respaldados nem mesmo pelas várias teorias de hiato, porque a ordem da criação está em oposição direta às interpretações da ciência moderna (por exemplo, a criação das árvores antes da luz). A expressão “dia e noite” indica dias literais (cf. Dn 8.14, onde a mesma expressão em hebraico é traduzida como “tardes e manhãs”).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como se pode observar, alguns estudiosos tentam alinhar o ensino bíblico com a ciência, apresentando argumentos que sugerem que não se deve usar uma interpretação literal do termo “dia”, pois ele significa também “era”. Outros aceitam que o texto é do gênero poético e usa metáforas, não acreditando que possa estabelecer qualquer cronologia. Ao tentar conciliar o relato da criação, concluem que Deus levou algumas ‘eras’ para criar o mundo. No entanto, Morris, ao tratar sobre a teoria evolucionária, diz que:

 

“o vocábulo hebraico traduzido “dia” algumas vezes pode ser usado para indicar um longo e indefinido período de tempo. Isso é verdade, mas é igualmente verdade que, na esmagadora maioria dos casos, tal termo se refere a um período de 24 horas, e sempre que o termo é empregado no ordinal (primeiro, segundo, etc.), conforme é o caso aqui, tal termo sempre se refere a um dia de 24 horas”.[8]

 

Acredito que, ao relatar os dias da criação, Moisés tinha em mente um período de 24 horas cada. Observe que os versos falam que a semana da criação foi composta de “tardes e manhãs” (Gn 1.5,8,13,19,23,31) e não de “milhares de anos”, e no sétimo dia Deus descansou e santificou (Gn 2.2-3). Vemos também a relação do trabalho semanal e a criação (Ex 20.8-11), o que sustenta ainda, mais uma interpretação literal do termo.

Por fim aqueles que estudam as Escrituras e a ciência com responsabilidade devem ter o “cuidado para não fazer a Bíblia dizer o que ela não diz. Da mesma forma, o estudante da ciência não deve fazer a ciência dizer o que ela não diz. O aspecto mais importante desta discussão não é o processo, mas a origem da criação”.[9]


[1] Dicionário Bíblico Strong Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil. 2002, p. 676.

[2] VINE, W. E; UNGER, Merril F; JR, Willian White. Dicionário VINE. 1ª ed. CPAD, 2002. p. 96.

[3] Oliveira, Oséias Gomes. Concordância Bíblica Exaustiva Joshua. volume 3, N-S. Rio de Janeiro: Central Gospel. p. 914.

[4] Concordância Bíblica Exaustiva Joshua. p. 914.

[5] VINE, W. E; UNGER, Merril F; JR, Willian White. Dicionário VINE. 1ª ed. CPAD, 2002. p. 96.

[6] CHAMPLIN, Russel Norman. O Antigo Testamento Interpretado: versículo por versículo: Gênesis, Éxodo, Levítico, Números, volume 1.  2ª ed. São Paulo: Hagnos, 2001. p.11-12

[7] Bíblia de Estudo Palavras-Chave Hebraico e Grego. 4ª ed. Rio de Janeiro: CPAD. 2015. p.4.

[8] MORRIS, Henry Madison. A Bíblia e a Ciência Moderna. 2ª ed. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1978. p. 30.

[9] Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD. 2004. p. 5.

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